domingo, 8 de agosto de 2010

Rio de Janeiro, Brasil: Morte de milionária portuguesa envolta em mistério


«O advogado e ex-deputado do PSD Duarte Lima desmentiu hoje, domingo, em comunicado, as notícias que garantiam não ter ainda prestado o depoimento solicitado pelas autoridades brasileiras relativamente à morte de uma milionária portuguesa. Rosalina Ribeiro foi assassinada no Rio de Janeiro, no Brasil, no dia 7 de Dezembro do ano passado.

“Tendo sido uma das pessoas que se encontrou com a Sra. D. Rosalina Ribeiro no dia do seu desaparecimento, as autoridades brasileiras quiseram ouvir o meu testemunho, testemunho esse que prestei na devida altura.” De resto, ressalva o advogado, foi ele próprio a ter a iniciativa de contactar as autoridades policiais competentes “no sentido de as ajudar a reconstituir o último dia em que ela fora vista”.

Rosalina da Silva Cardoso Ribeiro, 74 anos, era cliente de Duarte Lima, uma vez que disputava com a filha extraconjugal do homem, também português, com quem viveu mais de 30 anos, uma herança superior a 35 milhões de euros. Encontraram-se ambos para “uma reunião de trabalho, a pedido da própria”, no dia em que ela acabou por morrer. Mas o seu corpo só viria a ser reconhecido no dia 21 de Dezembro.

“Passado alguns dias, e já em Portugal”, acrescenta o advogado, “tomei conhecimento de que a minha cliente se encontrava desaparecida desde o dia 7, e que do seu desaparecimento fora feita a respectiva participação às autoridades”. Foram os amigos da portuguesa que, na ausência de notícias – Rosalina tinha viagem marcada para regressar a Portugal no dia 12 daquele mês -, procuraram a polícia e registaram o desaparecimento no sector de Busca de Paradeiro da Divisão de Homicídios.

Tendo tomado conta deste acontecimento, Duarte Lima enviou “uma comunicação escrita às autoridades brasileiras, dando nota detalhada do encontro” que com ela tivera. Só no dia 21 de Dezembro, esclarece, foi “informado” de que o corpo havia sido encontrado e a sua cliente “vítima de morte violenta”.

É a violência desta morte que, meio ano depois, continua por explicar, sendo difícil entendê-la sem recuperar os últimos 50 anos.

Sem identificação, mas com jóias

A história de Rosalina cruza-se com a do milionário Lúcio Tomé Feteira. O empresário, filho de um industrial, era não só detentor de uma das maiores fortunas da Europa, mas também um homem influente. Políticos do mundo inteiro integravam o seu leque de amizades.

Os dois emigrantes, Rosalina e Feteira, conhecem-se em 1955. Doze anos depois, ela torna-se sua secretária e, logo depois, sua amante. A relação dura 32 anos, mas paralelamente Feteira vai tendo outras mulheres. Os problemas de Rosalina começam em 2000, quando o empresário de 98 anos morre, surgindo uma filha exterior àquela relação para disputar a herança. A guerra dominou quase os últimos dez anos.

De acordo com o relato do jornal brasileiro Extra.globo, no dia em que desapareceu, Rosalina terá entrado no elevador do prédio onde morava, na Praia do Flamengo, zona Sul do Rio. Seriam 19h59m de uma segunda-feira. Usava um vestido sem mangas, com estampado preto e branco. Debaixo do braço esquerdo, guardava pasta com documentos; na mão, uma bolsa. Um casaco branco pelas costas e outro na mão.

Sete minutos antes, recebera um telefonema e tudo indica que terá marcado um encontro com Duarte Lima, seu advogado em Portugal, mas que, a seu pedido, estava no Rio. Apesar de conhecer o interlocutor, Rosalina estava tensa. Tinha medo da violência na cidade, receio que já revelara aos amigos. Por isso, quase não saía à noite e quando arriscava uma saída avisava sempre alguém dos passos que iria dar.

Naquele dia, no entanto, coloca o medo de lado, abandona o prédio e avança, sozinha, por uma rua escura. E este é o seu último registo com vida. Duas horas depois, a 90 quilómetros dali, em Saquarema, na região dos Lagos, a idosa é assassinada com dois tiros, um na testa, outro no peito. Os disparos, dados à queima-roupa, são de um revólver calibre 38.

Os assassinos estão longe de ser ladrões: não lhe levaram o relógio de pulso nem os dois anéis nem o par de brincos. O corpo foi abandonado num cemitério de carros roubados, entre os distritos de Ponta Negra e Sampaio Corrêa. E só foi encontrado na manhã do dia seguinte, 8 de Dezembro, por uma equipa de guardas municipais. Sem identificação, o cadáver foi levado para o Instituto Médico Legal de Cabo Frio. E ali ficou 12 dias.»



in JN online, 08-8-2010

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