domingo, 22 de agosto de 2010

São Conrado, Rio de Janeiro: Traficantes em fuga assustam portugueses




«Mais de 50 cidadãos portugueses, maioritariamente membros de três tripulações da TAP, viram-se envolvidos na invasão de um hotel de luxo do Rio de Janeiro por um bando de traficantes. Uma chefe de cabina chegou a ter uma arma apontada à cabeça.

No Intercontinental, um hotel de cinco estrelas bem próximo da Favela da Rocinha, só uma cidadã portuguesa teve contacto directo com os traficantes que se haviam refugiado ali na sequência de um tiroteio com a Polícia, fazendo 35 reféns.

Ao que o JN apurou, a chefe de cabina da TAP, ao descer pelas escadas, em vez de usar o elevador, como os restantes colegas, deu de caras com um dos marginais, que lhe apontou uma arma de fogo à cabeça. O incidente ficou por aí, mas a portuguesa recebeu apoio psicológico.

Muito medo e revolta eram sentimentos comuns aos hóspedes que, a pouco e pouco, saíam do hotel. Tinham estado na mira de dez marginais armados, que fugiam da Polícia, depois de um deles ser abatido e de terem ferido quatro agentes. Acabaram por entregar-se às autoridades, sem tiros e sem feridos entre os hóspedes.

O Hotel fica na base da Favela da Rocinha, em São Conrado, zona de grande actividade no tráfico de drogas. Daí que as cenas de violência sejam habituais.

Ontem, sábado, pelas cinco da manhã (9 horas em Portugal) um “comboio” composto por dois furgões e vários carros e motos transportava um grupo saído de uma festa. Quase todos estavam armados e acabaram por envolver-se num tiroteio com uma patrulha que tentou pará-los. No grupo estaria o líder do tráfico.

O ataque ao Intercontinental deu-se pelas 9 horas, quando uma dezena de elementos do grupo se viram encurralados, depois de uma das suas viaturas ter chocado de frente com um carro da Polícia, a cerca de cem metros do hotel. Uma mulher, presumível membro do grupo, foi morta a tiro. Quatro polícias ficaram feridos.

Já encapuzados, os marginais, armados com espingardas, pistolas e granadas, tomaram o rés-do-chão e fizeram 35 reféns, hóspedes e funcionários. Em poucos minutos, o hotel foi cercado pela Polícia e dois helicópteros circulavam para que ninguém escapasse. Uma hora de negociações e um impressionante aparato policial levaram à rendição.

“A resposta funcionou como pretendíamos”, disse o coronel Henrique Castro, que comandou as operações.

À medida que hóspedes e funcionários iam saindo foi-se percebendo a dimensão do drama, mais sentido pelos brasileiros.
Um dos clientes, paulista, considerou a situação “inadmissível” e culpou o Governo do país, por ainda permitir a existência de locais como a Rocinha. Outros estavam incrédulos. “Não percebi o que se passou”, dizia um turista americano.

Um recepcionista conseguiu fugir. “Estava a preparar-me para entrar ao serviço quando os vi chegar, e escapei”, disse ao JN. Os hóspedes portugueses e os restantes tiveram que esperar horas até poderem sair. A Polícia “fechou” o edifício até acabar de revistar todos os quartos e verificar as identidades de toda a gente.»
Texto in JN online, 22-8-2010

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