quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Duarte Lima é a pista que resta à polícia para chegar a executores de Rosalina Ribeiro

«Autoridades do Rio de Janeiro vasculham negócios do advogado de Rosalina Ribeiro em Portugal e no Brasil.



Na Barra da Tijuca, o bairro mais chique da cidade, a divisão de homicídios da polícia do Rio de Janeiro tem sido cautelosa quando fala de Domingos Duarte Lima.

Mas embora Felipe Ettore, o coordenador da equipa de 250 inspetores, se tenha recusado a usar a expressão "suspeito", o advogado português é neste momento a única pessoa que está a ser investigada a fundo pela polícia brasileira, na tentativa de descobrir quem mandou matar Rosalina Ribeiro. O Expresso apurou que todas as investigações sobre outras pessoas foram postas de lado.

Os negócios de Duarte Lima em Portugal e no Brasil estão a ser escrutinados. O objetivo é apurar se existe uma ligação entre os interesses económicos do advogado e as ramificações da herança de Tomé Féteira, o milionário que foi companheiro de Rosalina.

"Temos conhecimento de uma empresa imobiliária no Ceará, da qual o doutor Duarte Lima é sócio", admite uma fonte da investigação. "Mas ainda não determinámos qualquer relação com o processo."

Foco no advogado português

O foco sobre o advogado português intensificou-se depois de as pistas por ele fornecidas às autoridades terem sido exploradas até ao fim e se terem revelado inconsistentes. O ex-deputado tinha contado à polícia o que preocupava Rosalina no dia em que foi assassinada, a 7 de dezembro de 2009.

Na reunião de meia hora com a cliente, numa lanchonete do Rio, fora informado de um esquema de desvio de dinheiro da herança Féteira, envolvendo um funcionário da fazenda Pedra Grande, em Maricá, e da SEAI, empresa que gere o património do milionário no Brasil.

Na versão de Duarte Lima, Rosalina descobrira que metade dos rendimentos de exploração da fazenda estaria a ser depositada numa conta do funcionário Joaquim Sousa Dias, com a cumplicidade de Arlindo Guedes, potencial comprador da parte da herança de Rosalina.

"A vida de Joaquim foi esmiuçada desde o dia em que nasceu". Não foram detetadas transferências nem nada suspeito. "É um empregado da SEAI, um peão, não tem autonomia".

Ao Expresso, Joaquim recusou-se a prestar esclarecimentos. O antigo motorista de Tomé Féteira limitou-se a dizer que toda a gestão do espólio do ex-patrão "é responsabilidade da engenheira Olímpia", filha do milionário.

Também Arlindo foi investigado. Sócio e gerente da empresa que explora a fazenda de mil hectares, em Maricá, foi encarado de início como um suspeito natural. Conheceu Rosalina em setembro, aproximou-se dela e era um dos dois potenciais compradores de parte da herança - o outro interessado na aquisição da parcela da fortuna é uma personagem misteriosa de nome Gisele, que ainda não deu sinais de vida e com quem Duarte Lima disse ter deixado a sua cliente minutos antes de ela morrer.

No dia seguinte à morte de Rosalina, o empresário Arlindo pediu a um taxista para ir ao prédio onde a portuguesa vivia, porque não conseguia contactá-la e tinham ficado de combinar um encontro em Portugal. "Se tivesse algum tipo de participação no crime de Maricá não iria chamar a atenção sobre ele. Muito menos enviar alguém lá", refere a mesma fonte da polícia brasileira. Oito meses depois, Arlindo é mais um nome descartado pelas autoridades.

Uma carta de 20 perguntas

Ainda de acordo com Duarte Lima (que se recusou a prestar declarações ao Expresso). as irregularidades financeiras tinham sido descobertas por Rosalina depois de idas recentes ao cartório de Maricá, onde tinha bons contactos. O notário responsável do cartório onde estão registadas as propriedades da família, no município vizinho do Rio de Janeiro, desmente-o.

"Conhecia a senhora Rosalina e o doutor Féteira há muitos anos. Costumavam vir juntos. Mas não a via há bastante tempo", diz Ayrthon Dias. "Da última vez, há mais de cinco anos, esteve cá com um advogado que usava rabo-de-cavalo, para saber informações." Ayrthon já foi ouvido como testemunha.

Afastadas as pistas descritas por Duarte Lima, a polícia voltou ao ponto de origem. "Há um monte de gente que tem motivos para o crime mas nós não nos vamos dispersar. O essencial neste momento é perceber o encontro entre a senhora Rosalina e o seu advogado. É daí que temos de partir", esclarece um elemento da divisão de homicídios da polícia carioca.

Os investigadores querem saber detalhes que consideram essenciais para esclarecer o crime: "O dr. Duarte Lima não nos disse ainda onde alugou o carro que usou no Brasil. Nem qual foi o local de encontro exato combinado com a cliente." Além dessas, há mais de vinte perguntas que deverão chegar dentro de dias a Portugal numa carta rogatória. E que poderão dar início a uma nova fase do caso.

Texto publicado na edição de papel do Expresso de 4 de setembro de 2010»

Texto in Expresso online, 08-9-2010

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