segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Santo Antão do Tojal, Loures: Matou marido e dormiu três dias com o cadáver



«Um mulher, de 63 anos, foi detida pela Polícia Judiciária, em Lisboa, depois de ter assassinado o marido à facada e à martelada. Ao lado do cadáver, dormiu durante três dias. A vítima estava quase cega e a agressora andava em tratamento psiquiátrico.

O homicídio terá ocorrido na quarta-feira, à noite, mas só foi descoberto anteontem, sábado, de manhã, quando a filha do casal, cerca das 11 horas, bateu à porta dos pais, para os visitar, em Santo Antão do Tojal, uma freguesia do concelho de Loures.

A agressora terá saído no dia em que praticou o crime do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, onde estava a receber tratamento psiquiátrico com regularidade. A doença era conhecida de todos, mas ninguém esperava aquele desfecho. “Como é que ela foi fazer aquilo?”, perguntam os vizinhos.

Com efeito, segundo vizinhos do casal adiantaram ao JN, a filha, com cerca de 30 anos, ao entrar na casa dos pais, deu com a mãe deitada na cama, enquanto o pai, conhecido por Zé do Metro, de 65 anos, por ter sido empregado do Metro de Lisboa, estava caído no chão, morto. A vítima apresentava vários hematomas e ferimentos, provocados por uma arma branca e por um martelo, que se encontravam também no chão, juntamente a uma corda.

No entanto, o casal sempre tivera um passado de conflito, aparentemente devido a uma relação extra-conjugal que o marido terá tido quando a filha do casal ainda nem 10 anos tinha.
“O marido saiu de casa para ir viver com outra mulher e ela é que ficou, sozinha, a criar a filha”, contou, ao JN, Maria da Conceição, moradora também na localidade.

Terá sido por essa razão que a presumível agressora, Glória, começou a sofrer depressões, condição de que nunca mais se libertaria. A casa, uma modesta vivenda na Travessa de Ivone Silva, já era então do casal, “mas só tinha as paredes”, contou, por sua vez, Júlio Santos, de 53 anos.

Glória, sem outra casa, acabou por ir residir na vivenda, que praticamente só tinha paredes. ?Olhe, sabe como é que ela fazia? Acabou uma divisão, vivia lá, e ia fazendo assim, até estar tudo acabado, mas foi ela quem pagou tudo?, apontam as vizinhas.
Sem recursos, era comum os moradores de Santo Antão do Tojal verem a Glória todos os dias passar no centro da localidade carregada com sacos de roupa para ir vender no Metropolitano de Lisboa, onde o marido trabalhava. “Coitada, foi assim que ela criou a filha, sem ninguém a ajudá-la”, recordou Maria da Encarnação.

Um dia, passados mais de dez anos, apareceu-lhe o marido à porta, a mulher que com ele vivera e por quem abandonara a casa tinha falecido e “ele não devia ter mais lado nenhum para onde ir”, recorda Júlio Santos. Glória não o quereria receber, mas a filha terá pedido à mãe para aceitar de novo o pai.

Mas o ambiente não melhorou por isso e, bem pelo contrário, ter-se-á agravado. Várias vizinhas testemunham conflitos frequentes entre o casal.

Na rua, no entanto, ninguém dava por nada. Ele, devido à diabetes, acabou por ficar quase cego e, para andar na rua, já só o podia fazer com uma bengala. Atrás vinha sempre a Glória, meio titubeante, os medicamentos e as depressões a dificultarem-lhe os movimentos.

E nunca mais deixou o tratamento hospitalar, num ambiente mental cada vez grave e conflituoso. No sábado à noite, acabou por confessar ter assassinado o marido e manteve-se três dias perto do cadáver.»
Texto in JN online, 13-9-2010

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