«Pai de um ex-jogador da selecção nacional levava meninas da aldeia à escola. Fez vítimas dos 7 aos 13 anos.
- António P. (na foto) vive ao lado das suas vítimas -
Motorista da Junta de Freguesia de Outeiro da Cabeça, em Torres Vedras, António P. tinha a missão de conduzir à escola as crianças da sua aldeia, Olho Polido. Pelo caminho parava o autocarro e consumava os crimes sexuais. Só entre 2009 e o ano passado terá abusado de oito meninas, entre os sete e os 13 anos. Pai de um ex-futebolista da selecção nacional, o suspeito de pedofilia continua em liberdade. Vive ao lado das suas vítimas – e foi ali que o CM o foi encontrar ontem, ao volante do seu tractor.
Os crimes foram denunciados ao nosso jornal por familiares de algumas das crianças abusadas, na sequência de uma investigação que decorreu na secção de combate aos crimes sexuais da Polícia Judiciária de Lisboa. Foram apurados oito casos, no processo dirigido pelo Ministério Público de Torres Vedras – que não promoveu a prisão preventiva de António P. Na altura em que o suspeito foi apanhado, ainda no ano passado, só haveria indícios de um caso. Os outros foram entretanto apurados pela Judiciária.
"Eu não faço comentários nem que me apontem uma pistola à cabeça", foi a única reacção que o homem de 60 anos teve ontem – depois de o CM ter falado com familiares das vítimas. Duas das crianças são suas sobrinhas-netas (ver caixa), que agora têm dez e 13 anos.
Segundo os vários relatos, o condutor do autocarro da junta de freguesia, que diariamente transportava as crianças de manhã e à tarde, no regresso das aulas, procurava as vítimas mais vulneráveis. Meninas provenientes das famílias mais desfavorecidas. Encostava o autocarro durante o percurso para a escola e fazia brincadeiras com as menores, que a princípio não se apercebiam dos crimes praticados.
Há casos de crianças que eram despidas e sujeitas a diversas carícias de cariz sexual. Em situações extremas, o suspeito de pedofilia "chegou a tentar a penetração".
Os investigadores inquiriram as vítimas e testemunhas na aldeia – onde "toda a gente sabe" os crimes graves pelos quais António P. está indiciado. Também o filho, ex--atleta da Selecção com quem o CM falou ontem, sabe do assunto. Nunca houve tentativas de vingança, mas as famílias das oito vítimas dizer exigir "Justiça".
CASADO COM DOIS FILHOS
António P. é casado e tem dois filhos na casa dos 30 anos. Um deles foi jogador da selecção nacional. Em casa, António vive apenas com a mulher. Tem vários vizinhos, muitos dos quais são pais das suas vítimas.
CASO DESCOBERTO LEVA A EXPULSÃO
Quando o caso foi descoberto no ano passado, António P. foi inquirido pelos investigadores dos crimes de natureza sexual da Polícia Judiciária de Lisboa. O abusador ficou desde logo sem trabalho na junta de freguesia.
SUSPEITO ESPERA POR INVESTIGAÇÃO
Quando foi ontem de manhã abordado pelo ‘CM’, António P. disse desde logo não querer prestar declarações uma vez que o caso ainda "está a ser investigado" pela PJ.
ESCOLA DIZ NÃO CONHECER OS CRIMES
Confrontada com os crimes sexuais, a directora da Escola Primária de Outeiro da Cabeça não quis ontem prestar declarações sobre o caso. Por seu lado, Mário Gomes, presidente do agrupamento de escolas do concelho, disse ao CM não ter conhecimento dos casos. "Somos uma direcção recentemente constituída e não nos chegou qualquer informação sobre o caso.
António P. era contratado pela Junta de Freguesia de Outeiro da Cabeça como motorista, mas foi suspenso. O CM tentou contactar o presidente da junta mas até à hora de fecho da edição foi impossível.
SOBRINHAS-NETAS SÃO DUAS DAS VÍTIMAS DO PREDADOR
Desde que António P. foi detido no ano passado, por um caso, rapidamente começaram a surgir novos nomes de vítimas junto da Polícia Judiciária. Várias crianças, entre os sete e os 13 anos, relataram aos investigadores os abusos de que eram alvo. Todas elas vizinhas e duas delas sobrinhas-netas do predador sexual. "Elas contaram que ele as agarrava e mexia-lhes no corpo", disse ontem ao CM o pai das vítimas, sobrinho de António P.
"Agora como vivemos perto um do outro ele ainda vem cá, mas elas nem gostam muito que eu lhes diga para o cumprimentar porque ficam acanhadas", diz o pai. As duas meninas, agora com 10 e 13 anos, entravam no autocarro junto a casa e seguiam depois para a Escola Primária de Outeiro da Cabeça, em Torres Vedras.
Ainda antes de parar a carrinha para consumar os abusos sexuais, o homem de 60 anos fazia sempre questão de as ajudar a entrar para a viatura. "Elas uma vez contaram à mãe que ele lhes tocava quando elas entravam", continua o pai das menores.
Na aldeia de Olho Polido todos os vizinhos sabem dos abusos. "Na altura foi um choque. Nunca imaginámos que ele fazia essas coisas às raparigas. Como elas eram pequenas nem sabiam muito bem o que lhes estava a acontecer", confirmou uma vizinha. "Ele agora até tem vergonha de olhar para nós", conclui a mesma testemunha.
"COMO A MINHA NETA HÁ MAIS. ESPERO QUE ELE SEJA CASTIGADO"
José (nome fictício) não perdoa António P. por ter abusado da neta de apenas dez anos. Obrigado a conviver diariamente com o abusador de menores, uma vez que a casa do predador se situa a menos de cem metros da sua, ontem mostrou-se ao CM revoltado. "Como a minha neta há mais crianças. Só espero que ele seja castigado", disse. "A menina nunca me contou nada pessoalmente. A Polícia Judiciária esteve cá em casa a falar com a menina e eu soube pelo meu filho que ficou muito chateado. Vários vizinhos comentaram", lamentou.
O percurso utilizado pelo suspeito começava bem cedo na aldeia de Olho Polido e só parava em Outeiro da Cabeça, junto à escola. E era também cedo que o pesadelo das meninas começava. Todas elas foram ouvidas pela Polícia Judiciária.
"Nunca mais lhe falei. Ele passa por mim e também não me diz nada. Deve ter vergonha. Anda de um lado para o outro e não me diz nada. Nem a mim nem aos vizinhos", continuou José. "Resta-nos agora acreditar na Justiça", concretizou.»
in CM online, 06-4-2011
Sem comentários:
Enviar um comentário